terça-feira, 2 de agosto de 2016

202 (20 de julho de 2016)



A lâmina fria desliza suavemente pela minha pele, com tão pouca força que não deixa mais do que vergões espaçados.

Olho para todas as antigas marcas que me tem me acompanhado por anos, cada uma contando a sua história triste, e eu quase posso sentir o gosto do alívio que seus aparecimentos me proporcionaram.

E enquanto a lâmina dança entre minhas cicatrizes, eu sinto cada vez mais anseio em assistir o sangue escorrendo da minha pele.

Mais desejo em macular a carne para liberar toda a dor represada em minha mente.

E a angústia só aumenta, juntamente com o medo de voltar para o vício altamente destrutivo que a automutilação representa.

E quando a lâmina finalmente termina sua dança, encontrando o local exato da minha pele onde ela deve repousar, começa a hora da pressão.

Cada vez mais a lâmina sendo pressionada em minha pele, e cada vez mais o gosto do alívio parece mais perto de tomar meu ser.

Eu quase posso sentir a pele começando a ceder, na iminência do desaparecimento do sofrimento e a chegada daquela antiga sensação estranha de não sentir absolutamente mais nada.

E quando em fim sinto que a catarse está chegando, minha mente é tomada por uma força que eu já não achei mais que eu possuísse.

Uma força capaz de parar a pressão e guardar o bisturi sem que nenhuma nova marca tenha sido feita.

E a angústia continua, mas não será assim que me livrarei dela.


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