domingo, 29 de novembro de 2015

Uma vida de possibilidades (24 de novembro de 2015)





Ela acorda em um lugar escuro e frio.
Anos presa nesse ambiente depressivamente sombrio, sem nunca ter tido a chance de viver uma vida real.
Angustiada pelo anseio de sentir o gosto da liberdade.

E nós só temos uma vida...

Ela se debate, fazendo as correntes de seus tornozelos e pulsos tilintarem, formando um som ensurdecedor que ecoa por toda a escuridão de sua cela fria.

Ela grita.
Implora que a libertem.
Chora.
Se desespera.
Más ninguém vem ao seu auxílio.

Dia após dia ela luta contra suas amarras, se joga nas grades que limitam seu espaço, indo sempre com o máximo de impulso que suas correntes permitem.

E a cada dia ela grita com mais determinação que no dia anterior.

Seu desejo de ser livre é tão intenso que não deixa a sua força de vontade se esvair.

E mesmo que ela nunca chegue a se libertar de seu cárcere...
Mesmo que ela nunca chegue a sentir o vento em sua pele...
Mesmo que ela nunca chegue a ocupar um lugar fora dessa cela...
O desejo de ter uma vida é alimento o suficiente para continuar sua existência.


Existência essa que atualmente se encontra nula para o mundo.

Um típico dia (19 de novembro de 2015)




Abro os olhos, levanto, uso o banheiro, escovo os dentes, tomo banho...
...Faço a barba...
Eu me odeio.

Penteio os cabelos, alimento os bichos...
...Me visto...
Eu me odeio.

Saio de casa, digo “bom dia” ao porteiro, ele responde, pego ônibus, chego a universidade, entro na sala, assisto aula...
...Assino a chamada...
Eu me odeio

Falam comigo, converso, me divirto...
...Dizem meu nome...
Eu me odeio.

Almoço, saio da universidade, pego ônibus, desço na parada, caminho até uma lanchonete, faço meu pedido para viagem...
...Me chamam de “senhor”...
Eu me odeio.

Pego meu lanche, saio da lanchonete, chego no prédio que moro, digo “boa tarde” para o porteiro, ele responde, subo de elevador, chego em casa, lancho, tiro a roupa, tomo banho...
...Me visto...
Eu me amo!

Tiro foto, caminho pelo apartamento, brinco com as gatas, assisto TV...
...Olho para o espelho...
Eu me amo!

Meu namorado me liga, conversamos, ele diz que me ama, eu digo que também o amo...
...Eu ouço minha própria voz...
Eu me odeio.

Tiro a roupa, janto, assisto TV, olho para baixo...
...Vejo meu corpo...
Eu me odeio.

Escovo os dentes, penteio os cabelos, passo creme para amenizar as olheiras, ando em frente ao espelho...
...Me vejo dos pés a cabeça...
Eu me odeio.

Deito, programo a TV para desligar em duas horas, vou dormir...

Eu odeio não ser quem eu amaria ser.

BFF (19 de novembro de 2015)



Solidão, minha mais antiga amiga.

Você esteve presente em todos os momentos da minha vida, e eu nunca deixei de te acolher, te alimentar... você faz parte da minha historia.

Com você eu aprendi a me virar, a não ser tão dependente do afeto de outras pessoas e eu me apeguei a você.

Você me doutrinou a não abaixar a cabeça para ninguém, pois no fim do dia era só comigo que eu poderia contar. E eu acreditei nisso e me viciei nesse sentimento.

E como todo viciado, eu me afundei na minha droga.

Comecei a tirar pessoas da minha vida ao menor sinal de desapontamento, passei a racionalizar tudo o que sentia, e quando dei por mim, minha vida tinha se tornado uma análise fria de tudo o que me rodeava. E mesmo os sentimentos mais intensos eram abafados por uma avaliação a fim de classificar o que valia a pena ser sentido e o que era melhor ignorar.

E o pior é que eu nem sei quando nossa relação se iniciou, e menos ainda quando eu me viciei em você, o que eu sei é que eu preciso me livrar de você.

Não sei quando será o melhor momento para isso, mas eu ainda vou conseguir tirar você da minha vida... quem sabe assim eu consiga de fato ter uma vida.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dor (04 de abril de 2015)




Dezesseis meses de beleza, de amor.

Você me deu os dias mais belos da minha vida, e agora tudo o que sinto está tão confuso que eu nem consigo raciocinar direito.

Toda a minha vida eu fui o mais racional que pude, sempre me apoiando na lógica para não fazer algo estúpido por causa de uma paixão.

Sempre fui do tipo que sofre sozinho e chora quando não tem ninguém por perto.

Sempre tentando ser forte, não importa o que aconteça.

Vivendo com uma racionalidade sentimental sempre confundida com frieza, e mais recentemente, com covardia.

Covardia...

Não sei até que ponto essa palavra me atinge.

Eu fui covarde quando fugi de mim mesmo por medo de encarar as minhas verdades e como elas afetariam quem eu amo.

Eu fui covarde quando senti medo de me libertar das amarras sociais que me colocaram ainda na maternidade.

Eu fui covarde quando vivi sem aceitar quem eu sou.

Mas quando eu finalmente começo a tomar coragem para começar a viver minha vida do jeito que eu sempre precisei, essa palavra me é jogada com mais força do que eu poderia prever.

Ouvir as piores coisas de quem eu mais depositei carinho não é mais novidade para mim, mas mesmo assim a dor é forte.

Durante dezesseis meses eu acreditei que seria para sempre, eu acreditei que por mim você faria qualquer coisa e por você eu abriria mão de tudo.

Mas eu estava enganado, amor não vence tudo.

Eu cheguei ao meu limite e você ao seu, agora estamos os dois machucados, lidando cada um a sua maneira.

E essa noite eu me permitirei chorar mais um pouco, sentindo a sua falta na minha cama...


Mas só por mais essa noite.

Fraqueza (03 de Abril de 2015)




Vinte e dois anos tentando alcançar a felicidade e vinte e dois anos fracassando.

Eu tentei aprender a me amar do jeito que eu sou, com tudo que possuo de belo e de horrível.

Eu tentei aceitar as minhas inseguranças e vencê-las sem fraquejar.
Eu tentei ignorar os meus sonhos mais impossíveis achando que agarrar os que estavam ao meu alcance bastaria.

Eu tentei ser feliz com o que conquistei, mas não foi o bastante.

Vinte e dois anos de constantes lutas interiores, de me forçar a ter uma força que nunca possuí.

Vinte e dois anos mentindo pra mim mesmo, torcendo pra que o tempo tornasse tudo verdade.

Achei que realização profissional e encontrar o amor da minha visa bastaria, mas não dá pra fugir de quem somos.

Eu lutei comigo o máximo que pude aguentar, mas agora eu cansei de lutas.

Agora o meu coração está quebrado em mais pedaços do que eu posso juntar e minha vida acadêmica estagnada.

Eu preciso aprender a me amar, com todas as minhas peculiaridades, com tudo aquilo que existe em mim, com tudo do qual eu sempre fugi.


Mais do que nunca eu preciso de toda a força que eu não tenho pra conseguir me reerguer, porque dessa vez só eu posso me ajudar.

Vazio (04 de novembro de 2014)


O mundo pode explodir lá fora, eu não ligo.

Apatia
Tristeza
Cansaço

Sorrir falsamente
Fingir que tudo está bem
Olhar para a vida com achismo de que tudo vai melhorar

E o mundo pode explodir lá fora que eu não ligo.

Meu quarto; meu mundo.
Minha cama; minha casa.

Hoje eu não quero o mundo exterior ao meu redor.
Hoje eu não quero ver as pessoas e nem ouvir as suas vozes.
Hoje eu só quero ficar em casa, no meu mundo.

Pílulas e aço afogam essa ausência de vida, mas eu já não quero mais essa falsa ajuda.

Sono
Preguiça
Ócio

Minha mente se ocupa de mais com o que não deve, mas eu já cansei de tentar.

Meu quarto; meu mundo.